Domínio da solidão

O palco dos sonhos está despovoado de alegria, de jovialidade, de caprichos da imaginação... A água está em ebulição. Sentado no chão da banheira, as finas gotas correm apressadamente pelos largos ombros inclinados. Dá-se a mistura aguardada! Depois de tanto expectar, finalmente os fieis pingos salgados misturam-se com as ansiosas gotas "doces".

A união de dois corpos num ambiente cálido!

Era como o encontro de dois amantes num noite para se tornarem, temporariamente, numa só alma.

O aproximar suave de um par de personagens. O odor caracteristico. Um momento de perplexidade. Olhares inocentes exaltam-se. O toque surge. Palpitações aumentam estonteantemente. Doce silêncio. O tempo pára! A concórdia de um beijo. Turbilhão de emoções. Inseguranças intempestivas. Atordoamento da realidade...

O reencontro...

A porta do banheiro está trancada... A visão dissipa-se brandamente em cada inspirar. O ambiente tépido dá lugar a uma natureza ardente e escura. A janela está baça.

-Não posso mais ficar assim! Salvem-me... Elas estão a regressar. Parem! Já disse! Não vos quero mais. Têm tanto de doce como amargo... Sois odiosas! Fazem sofrer, vislumbrar memórias e recordar "aquela história".

A chuva cai.

As fortes rajadas embatem na pequena janela baça.

Acordo!

O corpo estava a ficar escaldado.

Uma última lavagem...