Sonho vs Pesadelo

Lembro de vos ver perante mim... Reunidas num quarto pouco iluminado, com uma camsa de casal, uma mesa de cabeceira e um quadro... Aguardavam uma decisão definitiva... Tu sentada esperavas, Tu de pé ansiavas... Era eu que teria decidir os meus e vossos destinos. Era incapaz de escolher entre vocês...

Uma representava o lado mais calmo da vida, o que se resignava com as decisões (in)justas mas que remoía por dentro, propícia a caricias infinitas, ponderada, inteligente, no rosto trazes a experiência, eloquente, pensava maduramente mas não o suficientemente, frágil, cumpridora, volúvel, possessiva, recatada, apenas actuante quando é estimulada para tal. Meu doce anjo. A figura similar do divino. O quanto é gostoso esse teu ar de apaixonada.

O outro era o lado destemido, arriscado, insolente, rebelde... Aquela que não espera por nada nem por ninguém, que caminha só, quer fortuna, deseja quem não a quer, no ar traz o fogo adormecida da doidaria, em cada forma do corpo subsiste um velho sigilio, não ri, apenas sorri, arrogante em poses, que se exibe, olhar ternurento, de quem se diz defensora do interior, tem actos irreverentes. Meu anjo rebelde. A figura similar do diabo... O quanto é gostoso esse teu ar de desertora.

Tornei-me pensador imérito mas rapidamente, transformei-me num louco...

Não existia o bem e o mal... Apenas o que “sentia” e o que “não sentia”... O correcto e o compreensível.

Decidi-me por ti. Apenas me recordo de estarmos acamados, mutuamente. Pedia-te desculpas e falava o quanto te amava, me perdia em ti, no passado... Preocupava-te como eu estava e confessara-te que estava preocupadíssimo com ela. Não a queria abandonar. Não queria escolher somente uma entre as duas. Perguntaras-me se era assim que eu queria... Mas dissera-te que queria as duas. Repulsava-me ditar a vossa felicidade e infelicidade. Manifestara-te o quanto isto me atormentara... Que queria o teu corpo mas, o dela também... Era impossível viver sem elas. Cabelo entre o tom preto e moreno, maçãs do rosto enternecidas e com um ar preocupado, olharas-me como se eu estivesse no topo. Abraçaras-me e disseras-me num sussurro ao ouvido “como queres fazer amor?”... Questionavas o futuro, órfão do presente... Davas-me festas no cabelo suado, de tanta tensão. Não quero nem posso reagir. Que ar de menina melosa, inquietada e leal como se tivesses a cometer uma acção de caridade ao pobre da esquina. Como mudaste, princesa do meu mundo...! Foi por mim? Por nós? Estava deitado em ti, com a cabeça assente no teu peito a pedir a Deus uma resposta... E o que seria dela? Abandonada aos ventos dos cosmos, temendo-te pelo que farias a seguir... “Não tomes nenhuma atitude inconsciente...” Mas quem seria eu para dizer tal coisa se, nem sabia quem escolher? Se não era exclusividade de nenhuma?

Acordei... Na almofada, as lágrimas afoguei...