Chove torrencialmente no
Recreio depravante e de terror.
Trovões caídos do infinito
Do reino do imperador
Assustam as teclas
Do velho piano.
O céu escurece
E o sol já cá não mora,
Partiu para morada
Desconhecida.
Pobres teclas,
Desgastadas com o nascer dos dias
E com os infortúnios
De todos os que te tocaram.
E eu escuto a chuva
Ao ritmo da melodia…
Como chove!
Como é doce o barulho
Do embate das pingas frescas
Na tijoleira do jardim.
Como é especial
A morte de cada uma delas.
E é tão belo quando os sons se misturam
E se complementam,
E se tornam num só,
E a afinação é perfeita…
Que cenário perfeito,
Um angustiado a tocar piano,
Um candeeiro de velas renascentista,
E uma tempestade.
E eu sou como Deus,
Envergonho-me das minhas criações
E não dou a cara por elas.