Auto-retrato escrito

Não sei quem sou nem de onde vim, só sei que tu és parte de mim. Esquecemos as palavras e gastámos os beijos apaixonados, que perderam-se no exagero de tanta loucura possível, de tantas promessas eternas… E tu perguntas-me em forma de murmúrio: “ -Quem tu és afinal, ó homem?”. Não te sei responder, pois dentro de mim fervilha um pianista, um pintor e um poeta… Sou vários homens com as suas diferentes maneiras de viver, com a sua beleza e defeitos mas muito limitado a um círculo de sentimentos indescritíveis e fustigantes. Mulher traída que derrama lágrimas de sangue por quem não te merece, chamo-me Bill Stein e vivo a pensar naquele amor que perdi para todo o sempre, naquela fonte de juvenilidade, naqueles olhos onde eu me escondia dos medos do mundo. Não sei pintar porque os meus traços são baseados no rosto dela, não sei tocar piano porque cada nota parece-se com a sua voz fina e doce, não sei escrever porque cada linha é um relato do que nós (não) vivemos… Que fomos nós, nesse período em que nos beijávamos em qualquer recanto escuro? Talvez seja parecido com um peixe que se afoga no seu próprio lago. Estranho? Irónico? Provei o veneno dos meus erros e terminei assim sem ti, sem nenhum dom. Fico conformado e incapacitado para derrubar as barreiras que limitam os meus pensamentos e devaneios. Contorno o dia em que me poderás dizer: “Tarde demais” ou até mesmo “Já te esqueci”. Adiando esse momento com as linhas que a minha mão escreve, tento deitar alguma água na fervura que o meu coração é. Por mais evidente que aches eu sei, que no silêncio ainda sou algo para ti. Quero acreditar nisso e ser teimoso e prevalecer e voltar a ser teu… Quer que me mostres a luz, a saída deste poço, a porta da gaiola… Pega-me com a mão, afaga e aquece este pobre coitado e diz-lhe baixinho ao ouvido que “ – Ainda te amo…!” Dentro de mim, o teu nome ecoará por cada veia, cada artéria até o coração entender que és tu que me fazes viver. Termina, com este silêncio duradouro, e diz-me doces mentiras, ilude-me como uma criança… Que o meu amor não ludibrie esta vontade louca de a abraçar e de sentir os seus lábios carnudos e quentes, que não vacilam por nada. Olha-me nos olhos e diz-me, outra vez, que me amas…