Nas suas lágrimas era possível sentir a frustração. Não admitia que podia estar errado quanto às suas ideias e decisões mas sabia que algo o consumia como uma folha de papel que arde em brasa numa fogueira. Sentimento estranho… Isso levava-o a questionar, constantemente, se estaria a agir correctamente ou muito pelo contrário. Por mais horas que meditasse, não era capaz de encontrar nenhum argumento que colocasse as suas reflexões em questão. Significado? Ausência de dúvidas correspondia a certezas. Pobre coitado, já não sorria como dantes pois o amor consumia-o duplamente. Ele, se ainda me lembro, era daqueles que amava de todas as maneiras e não tinha problema em auto-assumir isso. Sorria quando falava(m) nas mulheres da sua vida e das que nunca tiveram o privilégio desse título. Não negava que todas o ajudaram a ser o humano que se tornara. Conclusão demasiado óbvia. O comum mortal sabe que todas as pessoas que entram na sua vida são capazes de os modificar… Mas adiante! Ele não era como qualquer outro homem. Aquele era demasiado sensível e apaixonado. Certos dias, andava cabisbaixo e deprimido por questões recíprocas. Isto é, sentia que dava tudo o que tinha mas era incompreendido e não correspondido. O seu mundo era reduzido a pó e cinzas pois já não tinha sentido… O que é o desapontamento se não uma conjugação entre as expectativas e a realidade? Muitas das vezes, tentei dar-lhe apoio mas ele gostava de se fechar em si e permanecer numa reflexão com vista a encontrar uma solução. Costumava-me dizer que “ a beleza não passa de concepções da sociedade e da visão de um observador atento e nato”. Nunca entendi o sentido mas ele lá deveria saber, aliás louco era coisa que parecia e não era. Também não era um génio mas podia-se gabar da sua maturidade… Era defensor daquela tese que “o rumor é o quociente entre a verdade e a distância”… Engraçado é que o seu raciocínio matemático era fraco pois era mais dado à componente social e psicológica. A última lembrança que tenho dele foi de lhe questionar se “é possível ser melhor?” E disse-me “Se não tiveres, diariamente, a ambição louca de quereres ser mais e mais, então és ridículo…”