Três horas da tarde

Por mais que as gaivotas voem, as três da tarde já lá vão

(que horas são?)

à muito que as perdi no relógio, no tempo, na alma. Na rua ainda mora o cheiro das despedidas, de um eterno voltar de costas sem considerações ou arrependimentos marcados na calçada, da saudade cuspida na estrada

(onde estão as horas?)

e pergunto pelas três horas da tarde, pelos pássaros que nos sobrevoavam em jeito de adeus, fugiram para o sul

(talvez estejas por lá, depois das três horas da tarde)

quem saiba em busca de algo. Numa mão lançada à cara escondendo os olhos com o intuito de afastar qualquer sentimento de culpa, a verdade é que quando voltei a olhar para a rua já lá não estavas, passavam das três horas da tarde. Dêem-me outro nome e outra hora, arranquem-me o teu nome da minha boca, tirem-me a pele que tanto tocaste e abraçaste durante as três horas da tarde, sorvam-me os lábios que trincaste com tanto amor porque o amor só dura até às três horas da tarde

(onde estás? que horas são?)

e não sei de ti, nem como estás. Quantas três horas da tarde já passaram e tu longe de mim

(quem saiba no mar)

mergulhada nas profundezas marinhas num corpo de sereia em busca das maravilhas escondidas nos corais, por entre a escuridão e a luz que te leva por novos rumos para lá das três horas da tarde. Abrigo-me por debaixo do alpendre, onde te pedi que voltasses para mim ainda antes das três horas da tarde, porque aqui já chove e nada mais me resta se não esperar que um pingo de chuva te traga depois das três horas da tarde.