Vem morena

Vais ao fundo. Mergulhas no escuro do teu oceano, encontras as algas tristes coladas às rochas com temor. Não há estrelas nem conchas nesse habitat. Teu corpo de pele morena afoga-se na questão. Não obténs resposta. Inquietas-te porque sabes que o tempo não espera por ti. Sorrisos perdidos acabam por morrer quando a onda cansada chega à costa. Toda tu és uma prisão de sonhos, recordações, beijos, olhares de mil homens. Foste usada e abusada. Afliges-te porque te sentes perdida pela noite fora. Não sabes o caminho e percorres, de olhos vendados, ao acaso o trilho da incerteza. Não te quiseste encontrar com as contrariedades da vida. Preferias sempre o mais semelhante a ti. Não percebes que o mais belo é o nosso oposto? Não queres alguém que te complete? Então porque procuraste quem não te desse novas respostas? Sentes-te só e carente. Cada curva do teu corpo revela uma história, um beijo, carência... Enjaulada e ao som de uma recordação morres abandonada.