Além

Não tenho medo de enfrentar a escuridão eterna. Temo sim descobrir o fim dos desejos e sonhos, cegar dos olhos e do coração, ficar imobilizado para todo o sempre… Tornar-me-ei triste pois perderei tudo aquilo que perdi e conquistei, deixarei de procurar e de achar e de pedir explicações e de dizer “e”… E eu sentirei tanto a falta dela, do toque, dos seus olhos como flores que desabrocham em pleno orvalho da manhã, dos sorrisos melosos… Sobretudo, sofrerei a falta de sentir a tua ausência. Irei deixar de acordar todas as alvoradas e chorar-te em cada canto da casa, pois nessa altura o pranto já secou. Amargarei ao deixar de estremecer ao ver-te desfilando no passeio dos prazeres. Irei lamentar todos aqueles sonhos belos que tive contigo, que cairão no esquecimento. Serei livre pois deixarei de querer o mundo e tudo aquilo que ele tiver para me dar e as rosas terão mais cor quando perderem o meu contacto. Pergunto-me se existirá algo para além. E a resposta para este problema, quem a tem? Os deuses, Tu, o silêncio…?