Deixa-me ser sombra do teu corpo,
Dos teus dedos, alianças,
Dos cabelos que voavam ao sabor do vento
Como as manadas que subiam fogosamente a montanha
À procura de algo que nós não entendíamos (eles lá saberiam porquê),
Ser a sombra do teu sorriso,
Do teu olhar cor do mar transparente e do cetim.
(responde-me…)
Deixa-me provar-te e sentir os teus lábios suaves
Como penas de uma qualquer ave em vias de extinção.
Em ti já não respiro; sufoco-me com o teu corpo.
Vejo-te sim,
De longe, sorrindo para o sol como já me tivesses esquecido
Como eu já não tivesse mais brilho e cor para dar
(Que tem o sol de tão especial, explica-me!)
Ele não te pode dar lágrimas de chuva…
De que valerás estar em mim se há muito tempo
Que já não moro em ti, que a cama está vazia e
Teu calor já se perdeu no meio dos lençóis…
Que histórias queres que te conta para trazer de volta ao meu
Castelo?
Lembras-te daquele rei que um dia se perdeu na floresta
À procura da sua amada, que o desprezava?
E que vai ser feio dos retratos e das molduras que empunham
Grandiosamente os nossos sorrisos falecidos
Num qualquer caixão da nostalgia e do remorso?
(Não será assim que todos os caixões são?)
Que me vale seguir os cavalos que, desesperadamente, subiam
Ao cume? Não te espero encontrar por lá…
Que me vale a ousadia, as rédeas dos potros brancos,
Da aventura de descobrir algo novo?
Perdi a coragem, o toque, o poema e não tardou muito
A espada (do velho rei da floresta) castigar-me com um golpe fundo
No coração dorido de amargura.
Vou sim,
Para longe de ti compreender que a dor é um sofrimento
Que vive em forma crescente.
Terei saudades dos nossos (velhos?) vulcões de paixão…
Adeus