Baloiço meu

E o vento impiedoso torturava as folhas do topo das árvores, aquele cume onde eu jamais chegarei, tentando entregá-las ao chão em jeito de favor. Talvez queira despi-las para ver a sua beleza, os seus troncos e tudo o mais que não fosse visualizado à vista desarmada. Enquanto isso, estava uma doce criança escondida num corpo de adulto e sentada num baloiço já gasto, cansado e estafado de todos aqueles que suportou e o abandonaram para sempre, esperando que uma forte brisa lhe desse balanço suficiente para perder o medo de voar. Já mal cabia no assento de borracha, segurava fortemente as correntes de ferro repletas de ferrugem, o vento não desistia de lhe retirar o lugar mas desta vez para a eternidade porque já não é mais merecedor dele, porque cresceu e quer ser criança, quer atrasar os ponteiros do relógio e erguer um sol, uma estrela que à muito já morreu. Desaprendeu, tem medo de tirar os pés do chão e levantá-los em frente ou para o velhinho céu azul, o pior de tudo é nem se lembrar das arcaicas memórias que o ajudariam imenso a voltar a ser criança na sua totalidade. Nem te lembras que este baloiço foi teu um dia, ele não nega nem se esqueceu de ti. Choras por perceber que envelheceste e jamais serás capaz de fazer renascer essa pirralha que se ria com os pássaros, com o baloiço, com o que a rodeava pois o resto nem imaginava existir, por veres que a tua vez já passou, foi aproveitada, saboreada, esgotada e agora é a vez de outros inocentes experimentarem este “presente envenenado”.