Vontade alienada de soltar as palavras que teimam em ficar presas na caneta, que se secam na tinta azul, se escondem não querendo dançar no bolero das ideias e das palavras confusas nascidas de amores insaciados ou de folhas gastas e secas que deixam de bater asas e decidem desistir de lutar no Outono gélido e nublado. Palavras que o vento teima em guardar numa das suas mil e uma brisas secretas destinadas a encontrar a janela daquela morena que, mesmo sem uma noite de luar, brilha e floresce no coração de quem a vê.


As folhas de papéis amarelados tornam-se inúteis aquando tocam as cornetas medievais e se inicia uma guerra feroz e sangrenta entre pressentimentos e palavras que dizemos sem querer, querendo sufocar os gemidos de arrependimento e os vendavais daquilo que eu não esqueci. Caso perdido na alma, no coração e no corpo que falece ao ritmo do ponteiro dos segundos, esperando por ti para se ressuscitar. No amanhecer ou anoitecer, procura nas linhas um espaço para te dizer que fui teu, que te beijei e saboreei cada beijo, não me esqueceu de ti, sou obstinado por ti e que ainda pensas em mim. Deixaste cicatrizes das noites em que nos iluminávamos, que nos sentíamos como pela primeira vez, restando-me agora, alimentar esse “monstro” com as memórias ultrapassadas.


Já nada nem ninguém me ilumina, muito menos esta luz do candeeiro que a secretária ainda teima em sustentar. Estou perdido nas saudades em que te deitavas na minha cama e eu te chamava de mulher sonhadora e tu sorrias, percorro o caminho das trevas mas procurando-te por debaixo de cada pedra que avisto ou no meio dos leitos dos rios esperando uma explosão ou um despertar. Pingos de suor correm na testa do topo para o chão, torço o cabelo, vejo as horas e estás cada vez mais presente na cabeça mas tão ausente no papel…