Volto-te a mostrar a luz do mundo, à muito que moras escondida na escuridão dessa caixa sem nada dizeres. Limpo-te o pó e solto um murmúrio de mágoa. Julgo-te morta, inanimada perante o meu toque, longe do meu espaço criado a pensar em ti e na plenitude do nosso amor levado aos céus. Receio em voltar a ver as imagens que relembram o passado, quem saiba se em ti e no teu olhar eu já não morava, e me fazem verter lágrimas ao sentir o cheiro a cigarro que ficou preso nas memórias. Coragem esmorecida ao ver-te tão bela,

(Ainda és assim?)

tão doce como uma criança que não sonha nem procura a independência, que não quer crescer, que quer ficar harmoniosa para todo o sempre. Enamorado por ti, não me esqueço do teu vulto e nasce uma vontade de gritar aos ventos pelo teu nome, na esperança que te tragam para perto mim. Observo-te e volto-te a observar, procuro-te em mim e agarro-me desesperadamente às memórias que juntos criámos. Vou desfolhando as tuas cópias no formato mais aproximado à realidade que consigo possuir, volto a tentar tocar-te mas não passa de uma tentativa ineficaz. Não passas de uma imagem que já não me olha com vontade, que para ti já nada sou

(Terei sido?)

e mais nada me resta se não me agarrar ao meu universo secreto para te manter desesperadamente viva.